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História da Vespa


Ao lado da pizza, a Vespa é uma instituição italiana. A scooter, produzido pela Piaggio & C. SpA desde 1946, é um dos produtos de design industrial mais famosos do mundo e símbolo do design italiano.


A Vespa representou uma virada na história da Piaggio que havia sido criada em 1884 como uma empresa de construção de mobiliário naval e ferroviário, mas que logo começou a se ocupar também de produção metal-mecânica ferroviária e aeronáutica. A intenção de Enrico Piaggio ao produzir a "Vespa" não era iniciar uma fábrica de motocicletas, mas simplesmente encontrar uma alternativa temporária de produção, de consumo em massa, que permitisse à empresa superar a inevitável seca do pós-II Guerra e, posteriormente, retomar a construção aeronáutica.


Foi projetada pelo engenheiro aeronáutico da Piaggio Corradino D’Ascanio (1891-1981) que odiava motocicletas e usou seus conhecimentos como projetista aeronáutico para inventar algo completamente novo. Entre as novidades, ele modelou a posição de guiar baseado no desenho de um homem sentado confortavelmente em uma poltrona, para que a condução por um tempo prolongado fosse a menos cansativa possível; e acrescentou a roda sobressalente porque, como a maioria das estradas da época não eram pavimentadas, os motociclistas eram obrigados a consertar os furos frequentes nos pneus com remendos. O nome "Vespa" teria sido cunhado pelo próprio Enrico Piaggio que, em frente ao protótipo do novo veículo exclamou: "parece uma vespa!" pela semelhança com o inseto, graças à parte central muito larga para acomodar o motorista, a "cintura" estreita e o zumbido do motor.


A nova scooter foi apresentada em 24 de março de 1946 em Roma e gerou reações discordantes por parte da imprensa. para alguns era um “trabiccolo” (uma geringonça, em tradução livre) com pouca capacidade de potência e confiabilidade, para outros era um meio de transporte inovador com elementos de gênio da engenharia. A venda das primeiras 50 unidades, construídas e montadas à mão, no entanto, avançou lentamente e as duas últimas unidades foram adquiridas por executivos da própria Piaggio, como forma de declarar sua confiança no projeto. Mas Enrico Piaggio não se deixou abater por esse inicio pouco promissor e ordenou a produção de um primeiro lote de 2.500 unidades. Destas, 2.181 foram vendidas ainda em 1946. Provano que Piaggio tinha razão na sua aposta. Somente a partir de 1948, com o lançamento da Vespa 125, o veículo registrou um sucesso de público.


Um dos motivos da popularização da Vespa foi a possibilidade do pagamento em parcelas. Assim, a scooter veio suprir a necessidade de um meio próprio de deslocamento em um momento de crise econômica, onde a aquisição de um carro estava fora do alcance de boa parcela dos trabalhadores. Era um veículo prático tanto para ir ao trabalho, quanto para as pequenas viagens de fim de semana. Com algumas adaptações podia ser utilizado também como veículo utlitário. Mas, para cumprir esse papel específico, em 1948 a Piaggio lançou a Ape (Abelha em italiano). Um triciclo utilitário montado em sobre um chassi de Vespa.


Outro motivo, foi o sucesso que fez entre as mulheres. O projeto desde o seu início, aliás, tinha essa preocupação de ser um veículo adequado para as mulheres. O primeiro cartaz publicitário da Vespa, inclusive, mostra uma mulher guiando a moto. Dessa forma, a Vespa se tornando o veículo mais difundido entre as famílias italianas nos anos 1950. Representando mesmo um modo de vida italiano.




Na década de 1960, com a situação econômica dos trabalhadores já está um pouco melhor, os carros se tornam mais acessíveis e começam a concorrer com a Vespa. A própria Piaggio entra no mercado de automóveis com o lançamento do Vespa 400. Ao mesmo tempo, a fábrica altera o público-alvo da sua já famosa scooter para os jovens, lançando a Vespa 50, em 1963. O veiculo de 50 cilindradas podia ser usado por adolescentes a partir dos 14 anos de idade porque não precisava de carteira de motorista. O modelo de 125 cilindradas também podia ser conduzido na Italia a partir dos 16 anos. Uma modificação importante para se tornar um sucesso entre os jovens foi a variação implementada nas cores da Vespa, que até então saia de fábrica apenas em variações de cinza. O slogan escolhido para a publicidade do novo modelo era: “jovem, moderna e... sem documentos”. A propaganda na televisão foi protagonizada pelo cantor Gianni Morandi que, então com 19 anos, fazia sucesso com a música Andavo a cento all’ora (Andava a 100 por hora).



Aliás, a publicidade foi sempre um aliado da Piaggio na promoção da sua scooter. Enrico Piaggio sempre buscou criar uma atenção constante em torno de seu produto com iniciativas como a fundação e divulgação de Vespa Clubs: o primeiro nasceu em Viareggio em 23 de outubro de 1949, reunindo vários clubes espalhados pelo país. Os Vespa Clubs foram um importante veículo de promoção da Vespa. Primeiro na Itália e depois em toda a Europa, foram organizados ralis, gincanas e corridas de regularidade reservadas à Vespa. Vinte mil “vespistas” (como se chamam os fãs da scooter) se reuniram para o Dia da Vespa Italiana de 1951. Ainda hoje existem muitos fã-clubes da Vespa, mesmo fora da Itália, assim como é fácil encontrar vários sites dedicados a ela.


O cinema também ajudou a popularizar a Vespa, que apareceu em vários filmes como Vacanze Romane (estrelado por Audrey Hepburn e Gregory Peck em 1953), La Dolce Vita (com Marcelo Mastroianni e Anita Ekberg, de 1960), American Graffiti (primeiro filme dirigido por George Lucas, em 1973), Scarface (de 1983, com Al Pacino). Em 1999, a banda italiana Lunapop lançou a música intitulada 50 Special, em homenagem ao modelo homônimo da Vespa, mostrando como a scooter ainda continua ligada à ideia de juventude.





A letra diz:

“E a escola não vai bem

Mas eu tenho uma Vespa, uma namorada eu não tenho

Eu tenho uma Vespa, já é domingo

E uma Vespa vai me levar

Para fora da cidade.”


Muito cedo começou a internacionalização da Vespa. Ainda em 1948 ela começa a ser produzida também na Alemanha. Em 1951 abrem-se as licenças da Grã-Bretanha (Douglas de Bristol) e da França (ACMA de Paris); em 1953, a produção também começou na Espanha com a Moto Vespa S.A. de Madri. Logo depois em Jette, Bélgica. Fábricas também são estabelecidas em Bombaim e no Brasil, onde era montada pela Panauto, no Rio de Janeiro. Essa primeira aparição no mercado brasileiro durou de 1958 a 1964, seguida de uma década de ausência no país. O retorno da Vespa ao Brasil aconteceu durante a instalação da indústria nacional de motocicletas, a partir de 1974. Durante quase 10 anos, a Barra Forte indústria e Comércio, montou a scooter na Zona Franca de Manaus. Até que a Piaggio firmou uma sociedade com a Caloi, criando a empresa Motovespa para impulsionar a expansão das operações no país. Mas a produção foi decaindo até ser interrompida ainda em 1990. Apenas em 2016 foi criada a Vespa Brasil e a scooter voltou a ser fabricada no país. A Vespa desembarcou também nos EUA, Austrália, África do Sul (onde é batizada de "Bromponie", o pônei mouro), Irã e China.



Em 1988 foi criado o Museu Piaggio, na sede da empresa na cidade de Pontedera, na Província de Pisa, na Toscana. Que é hoje o maior e mais completo museu italiano dedicado ao motociclismo, com quase 5000 m2 de área expositiva, onde é possível conhecer diferentes modelos da Vespa, desde o primeiro, de 1946. E que abriga também o Arquivo Histórico Piaggio, que preserva a documentação desde as origens da empresa até os dias atuais.


Apesar do passar dos anos, a Vespa continua sendo um dos exemplos de design industrial mais bem-sucedidos do mundo. Sua linha, embora variando em detalhes, permanece inconfundível como um todo: qualquer que seja o modelo, qualquer que seja o ano de produção, suas características fundamentais permanecem tão impressionadas que o objeto Vespa é exclusivamente identificável.



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